quarta-feira, 25 de agosto de 2010

a vida como ela era...

como já dizia o Nenê Berola, amigo das antigas
“o cão que morde, não lembra
o cão mordido, nunca esquece”

esta é uma lenda de priscas eras, do tempo em que as diligências
sacolejavam na poeira do Velho Oeste
os animais falavam
e os dinossauros ainda se arrastavam sobre a face da Terra

férias escolares, andava aí pelos dezessete, dezoito certamente
que não, pois ainda não votava, mas nessa época ninguém votava
só que essa é outra história; vai que fui pra Bahia
na boleia de caminhão

a namorada não quis, ou não pôde, ou havia um programa
na família; resultado: não foi comigo
escalei o amigo Tonho Brown, outro das antigas

bicho (como se dizia naquele então), eu tava amarradão
a brota era papo firme, cabeça feita; olhava, sentia e pensava
o mundo como eu

me explico: não quero dizer que ela pensava igual
a mim, mas que tinha sacadas próprias, originais, não tinha
aquela velha opinião formada sobre tudo

ah, Morro de São Paulo, casa de pescador, banho de latão,
praia de manhã, PF uma vez por dia e forró à noite até o dia
clarear ― mamão com açúcar

Tonho ficou injuriado comigo nos rasta-pés: mulherio
chegando junto e eu só saindo de lado, jogando na retranca
cobrindo a zaga, afinal, tava paradão na mina

“Escuta, se é pra você ficar aí de vacilão, vou te contar...”
e por aí ele foi: arrodeou, pigarreou, enrolou, mas desembuchou
que tal e cousa e lousa e maripousa ― tinha furunfado com a mina

a minha mina! e o pior é que não foi vez
foram vezes! daí só deu Maysa na vitrola do coração
meu mundo caiu, eu que aprenda a levantar...

saí da função cuspindo infâmias, que ele não era amigo
coisa nenhuma, um traíra, duas-caras, um pústula!
(essa eu tinha acabado de aprender num folheto)

a viagem tinha acabado, deixei o recinto pisando duro
degustando o fel da crocodilagem, ruminando o veneno da perfídia
rumo do barraco do pescador, Gonçalo, baiano sangue-bom

encontrei o Gonça num boteco e despejei-lhe minh’alma
ferida de Pierrô paspalhão;
arreganhando os belos dentes de imaculado branco

Gonçalo me conta a saga da sua recente desdita,
a burguesinha veio, se hospedou na sua humilde
cabana e dividiram cama, mesa e sonhos

jurou-lhe eterno amor, despediu-se em lágrimas, suplicou
que viesse para o Sul Maravilha, dormiria na edícula
da casa dos pais, até arranjar situação

“pois é, meu rei, não teve mole pra mim, não,
fui parar num cortiço em Sampa e, do sanduíche
de mortadela, só vi foi o dormido pão”

a gata já tinha se ligado em outro, burguesinho como ela
Damares fez dele gato-sapato, jogou ele abaixo de cão
“pe-pe-peraí Gonçalo, Damares?, mas, mas, então...”

você já adivinhou?, que ela era ela e o outro era eu?
Gonçalo se virou para o dono do estabelecimento
“Josafá, bote aí uma dose de amansa-corno p’a nós
mas capriche, que o caso é grave, visse?!”

Tonho se juntou a nós e daí não lembro mais nada,
só que terminamos a noite encachaçados até à alma
no único orelhão da ilha berrando para o pai dela:
“por favor, acorde ela, é caso de vida ou morte”

“você quer me explicar que palhaçada é essa?”
“Damares, não fica brava, nós só te ligamos
pra dizer que a gente te ama pra caraaaalhoooo!”

é o que eu sempre digo:
(embora essa seja do Serginho)
enquanto não der o sinal,
ainda é recreio

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mastigar o bagaço cultural até sair o caldo

Estamos em São Paulo, a cidade suja da criatividade limpa.
A partir de agora usaremos todo o bagaço cultural para fazer nossa leitura.

Esse espaço vai trazer todo o bagaço cultural que existe neste planeta.
Vamos gastronomizar o que se produz em cada pedaço de
terra ou calçada, passando pela música, fotografia, cinema, teatro
e até o barrulho de chupar um pedaço de cana.
Vamos aproveitar até a última gota e o que sobrar é bagaço, é cultura.


O "Craque" no Brasil no ano da Copa.
Os nossos craques estão morrendo nas praças e espantando os pombos.
Se você quer conhecer esse jogo sujo,  é só passar por qualquer praça de qualquer capital do Brasil.
Os meninos estão jogando tudo nessa vida de "crak" e a sociedade está na arquibancada
não querendo ver esse gol contra e também nenhum a favor.



Dica no bagaço musical


Mafaro - André Abujanra
                                      
                                                            Experimentar e sentir o caldo
                                                            musical que estava perdendo.
  





                                                           Bagaça poética

                                                                     
          Quadro
                  (Maynart)

          Eu vi seus pés na tela
          Sombreando flores
          em luz amarela abajur
          Vielas de outra cidade
          Da porta à janelas
          Lugares e estação

                Eu li seu dia
                Eu li
                Eu li sua mão
         “Impressão, em sol levante”
         Picasso, Frida, F. Xavier, Di Calvacante
         Tarsila, Carybé, Cecília e Monet.


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