30 anos dura a dita (dura)
18 dias leva o povo a derrubá-la
Pirâmides balançam, a Esfinge sorri
(os canalhas estupram)
chupa que é de uva Ben Ali, Mubarak, Kaddafi e tutti quanti!
1984
jornais, rádios, revistas e a TV plim-plim não davam
mas o país convulsionava, novos ventos sopravam
eu voltava da escola, engolia um mistão e corria para a Sé
meus pais, informados pela mídia chapa-branca, nem desconfiavam
eu não, ligado no Facebook/Twitter da época
me embriaguei por estar do lado "certo" da história
os comícios passaram a ser medidos pelo milhão
a praça era do povo como o céu do condor
na minha terra havia e há, palmeira, jasmim e sabiá
agora, revolução à vera, cá nunca houve nem há
e já que condor aqui não se dá, quem comeu foi urubu
e carcará
27 anos depois, olhando a praça Tahrir é que vi
com meus olhos de cego vi o que não estava lá
vi o que lá não tinha, mas tinha no Diretas-Já:
palanque armado, camisetinha, celebridades, políticalha e jabá
os gambé vazaram aprovando uma Anistia que lhes cobria o rabo
os bacanos se atracaram ao butim dizendo aos brados
é de vós que o poder vem, às urnas, macacada
mas voto não teve não, teve foi gambiarra e acordão
e, de lá pra cá, os gabirus do palanque do poder não saíram mais não
por isso é que eu quero voltar para a praça e berrar a todo pulmão
chega de Tiriricas, Capitão Nascimento para presidente!
Capita, o inimigo agora somos nós!
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