domingo, 8 de maio de 2011

cheiro de cão molhado de chuva


afetos são vermes que roem
os invólucros da lembrança
voragem líquida da lente da memória
o mofo que recende na camera oscura
da consciência ― em tudo que deforma
os ritmos da luz e do sangue os encontramos
no Japão desocultam estes fluxos
rompem-se as eclusas da noite imensa
construída de trevas e espaço e olvido
carta fechada de um destino
a me ultrapassar por todos os lados
sob beirais e cimalhas nas sombras
dos portões de ferro a veneziana
que as formigas contornam subindo
a parede a beleza remida pelas idades
que impregna as coisas espécie de alma
das vidas vividas e daquilo que não poderá
ressuscitar o amor é apenas isso
um setembro guardado em papel
de rebuçado (rime riche celofane e sépia)
que todavia se apodera dos intervalos
comerciais das pedras de cantaria
dos antúrios da cidade sob
os escombros

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