segunda-feira, 1 de julho de 2013

ninguém está entendendo nada



e dizer que saí na rua de camisa amarela
vi o Marquês de Sade apresentar a Marquesa de Santos
ao dono das imagens
e acabei aqui
quieto palhaço da roupa branca
na tarde plana e o frio
beija venta na janela
escrevo numa tarde de junho em um dialeto
de gelo escrevo frases que não entendo
às vezes percebo a segunda vida das coisas
a vida secreta e furtiva de tudo que se vê
a segunda pele embaixo da pele
a carne fugitiva sob a pele
os ossos escondidos abaixo da carne
o buco do osso que é pleno vazio
que horrível me parece a realidade inteira
a pura aparência
eu apago a forma a fome de fama minuto a minuto
apago os mapas do futuro que não sei ler
porque eu vejo o que ainda não é e percebo
a segunda vida do que é noturno aquilo
que está por trás da realidade e chamo a isto
a segunda máscara porém não tenho
com quem compartilhar percepções
nem esta roupa branca e olhar vazio e o quarto
de dispensa e o eco distante de uma mulher
numa tarde de junho como esta
mas em troca posso ser um ovo do qual sairão
serpentes ou pombas


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