terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Club Roma (parte 1)


Andava a esmo pela rua buscando uma mulher, queria me convencer de que estava atrás da mulher da minha vida, mas, a bem dizer, servia qualquer uma que fizesse sombra e xixi sentada ― e não fosse sapo. Flanava pela aprazível rua Félix Guilhem prestes a cruzar a Alves Branco quando um rechonchudo e rebolativo traseiro apareceu bem na minha frente. Siga a bunda, diziam os instintos.
Uma bela caçada nos levou em direção da William Speers e atravessamos a linha de trem por uma passagem fedida e subterrânea rumo à Dronsfield; a esta altura, ela plenamente consciente de que era seguida, e eu plenamente consciente de que não tinha muito para gastar na conquista. Uma cerva, umas azeitonas no palito e rachamos o agá-ó, firmeza mina? Estratégia simples, tudo dominado.
Em frente ao Mercadão, cheguei junto. Cheguei chegando: pé na porta com cara de quem tem chá no bule. Travesti. Só de perto dava pra ver. Bom, não é a minha praia, mas quem vai a São Gonçalo, vai a Amarante, não custava trucar para ver se a manilha era copas ou zap. Resultou que a dama cobrava, gentilmente cotou para mim três tarifas diferentes para três serviços diversos.
― E com 20 mangos, linda, o que dá pra fazer?
― Compra um chicabom e volta pro Playstation, benzinho.
E saiu rebolando ainda mais, como as mulheres fazem quando sabem que as estamos olhando. O lombo era classe A, os peitos queriam saltar para fora do decote, pena que a Demi Moore com voz de Pato Donald fosse trombuda.
São as injustiças da vida: uma fachada feia muitas vezes prejudica uma bela bunda, enquanto um pequeno apêndice pode pôr a perder uma mulher, em todos os outros aspectos, impecável. Desperdício.
Mas aí me dei conta de que estava perto da rua Roma. Lembrei de uma dica quente dada por um freqüentador do pé-pra-fora que também me servia de base de operações; o lugar ficava no último andar de um hotel ali perto, Clube Roma, um baile da saudade para se dar bem com pouca bala na agulha.
O sabadão estava apenas começando, não havia motivo para desespero nem precipitação.
O hotel era uma jóia do tempo dos Afonsinhos; admirei uma vez mais a engenhosidade dos engenheiros, aquela relíquia continuar de pé era façanha digna dos arquitetos das pirâmides. O elevador chiava como um carro de bois enferrujado, balançando mais que o rabo da Demi Moore fake; ali travei papo com dois joviais rapazes que se dirigiam ao mesmo território de caça. Experientes que eram, ao menos segundo os próprios.
― Chefia, o hotel tem permanência curta... caso a gente se arranje, você me entende?... ― perguntou o de cabelo empastado e risca ao meio da cabeça.
― Pergunte na recepção ― o ascensorista, magro como um cão de rua e de rosto escrofuloso, cortou curto, falto de paciência para fazer graça com Holden Caulfields de subúrbio.
A entrada era quinze para cavalheiros, na vasca para damas. Lá se foi o meu mico-leão, apalpei no bolso a pobre garça que me sobrara calculando que só poderia tomar um refri no balcão. Mesa cobrava dez purça. Fora de questão.
Mas esqueci de me apresentar: Artur Giacomini. Vocês imaginem a cena: um xipófago de Débi & Lóide somado a mega doses de arrognância ― o fatal encontro da arrogância com a ignorância ―, ponha aí um combo de duranga econômica e financeira marinada em um molho de tempestade hormonal com baixa rodagem sexual e... aí está, o perfeito idiota de vinte anos que acredita ser a reencarnação de Arturo Bandini e confunde a Lapa de Baixo com Bunker Hill.
Naquele momento o som vinha de alto-falantes, mas um palquinho decrépito no canto do salão me fazia temer pela hipótese da música ao vivo. A atmosfera de semi-obscuridade não escondia, no entanto, os motivos da minha decepção. Virei para o da risca no meio da cabeça:
― Mano, se a gente tivesse demorado mais dez minutos essa mulherada daqui já tinha morrido!
― Quéisso velho, o negócio aqui é justamente chegar nas tiazinhas; elas dão, não embaçam, te pagam a breja e nada de hotelzinho: te levam pra casa e cozinham procê. Quer mais o quê?

...I love your tender warmth
and the way you like to dance…

Ia ser osso. Meia-nove ali não era o velho ipsilone duplo, mas a idade média do público feminino. Apalpei de novo a garça no bolso e decidi: tá no inferno, abraça o capeta.

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