quarta-feira, 30 de maio de 2012

a segunda pele



Quando um artista rompe
com a matéria de que é feito
equivale para o mundo
à descoberta da própria textura

Mais do que um público
a verdadeira arte abriga
usuários ambientes e conexões
cada obra se descobre participação e diálogo

Coexistem no objeto estético
realidades seres flutuantes inevitáveis
múltiplas arquiteturas simbólicas
o cortejo da infinita reprodutibilidade

A arte intervém como dobra
criação delirante libertação
por hipertrofia elemento aberrante
no jorro da vida

O habitat da poesia é a topografia
instável e transformadora do delírio
sonho tangível arte
não é resultado é resto

E o que resta é um esforço
para repotencializar a realidade
aumentá-la com metáforas deformar
saturar (ou subtrair) sentidos

A arte não transforma o mundo,
nem o artista mas revela percursos
imprevisíveis desconcertantes mentiras
aço e alabastro eterno simulacro

O artista ergue sua paisagem
de ocultas revelações geologia
de superfície cujo desabamento
contínuo soterra nosso frágil cotidiano

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